"Uma vez que você tenha viajado, a jornada nunca acaba; pelo contrário, é repetida muitas e muitas vezes no seu recanto mais silencioso. A mente nunca consegue se separar da jornada." (Pat Conroy)
Eu andava tão podre de cansado neste final de viagem que naquele momento viagem de trem já tinha virado sinônimo de soneca. De Madrí até Bordeaux era umas dez horas de viagem, trocando de trem em Hendaye. Juro que não me recordo de nada até a minha troca de trem. Sequer tive tempo de olhar a estação de trem. Chegamos lá faltando quatro minutos pro outro trem sair e, sendo assim, talvez pisei umas dez vezes no solo daquela cidade litorânea. Depois dormi de novo. Só me acordei quando senti alguém cutucando meu braço e dizendo ô, gremista! - sim, outro brasileiro. O cara tinha passado uns meses na França dando aulas de surfe e aprendendo francês. Nada mal...

Bordeaux é uma cidade compacta e encantadora - tanto que quase toda a cidade é tombada como patrimônio da UNESCO. A parte central tem séculos de história em cada esquina. Quem pensa que a cidade se limita a vinhos, portanto, se engana profundamente. A cada poucas quadras existem monumentos e placas contando das peripécias que os jacobinos e girondinos faziam por aqueles ruas estreitas onde hoje construções antiqüíssimas cedem seus espaços para redes de varejo cosmopolitas. E o melhor: se guiar por lá é muito fácil. Com ou sem mapa, não tem erro – ainda destaco os trams da cidade, que são novinhos e eficientes.
Vitrina decorada com ratos; no reflexo, eu e a Nilda
Chafariz Girondins
VIVENDO OS LIVROS DE HISTÓRIA

Vista do alto da torre
Acabamos pegando kebabs (com batata-frita completando o recheio) pra comer na beira do rio Garonne – que é, na minha opinião, a parte mais bonita da cidade. Anoitecia e as ruas estavam cheias de famílias, patinadores, ciclistas e vagalumes. Ao fundo, a bela Pont de Pierre e uma lua brilhante nascendo. Dificilmente esquecerei minha última noite (verdadeira) na Europa.
Pont de Pierre

É BOM TU SABER
Paris é legal em muitos aspectos, mas o aeroporto entre dez e seis da manhã é pior que o de Porto Alegre. O relógio marca 22 horas e tudo fecha. Como cheguei às 21 :52 lá e só tive tempo de fechar minha mochila naquelas maquininhas à vácuo e pronto: não tinha mais nada aberto. Jantei batatinhas Lays sabor barbecue e dormi entre duas cadeiras, vigiado por soldados da legião estrangeira com fuzis, até meu vôo do dia seguinte.