sábado, 26 de fevereiro de 2011

MOCHILÃO PELA EUROPA (PARTE 19: BORDEAUX)


"Uma vez que você tenha viajado, a jornada nunca acaba; pelo contrário, é repetida muitas e muitas vezes no seu recanto mais silencioso. A mente nunca consegue se separar da jornada." (Pat Conroy)

   Eu andava tão podre de cansado neste final de viagem que naquele momento viagem de trem já tinha virado sinônimo de soneca. De Madrí até Bordeaux era umas dez horas de viagem, trocando de trem em Hendaye. Juro que não me recordo de nada até a minha troca de trem. Sequer tive tempo de olhar a estação de trem. Chegamos lá faltando quatro minutos pro outro trem sair e, sendo assim, talvez pisei umas dez vezes no solo daquela cidade litorânea. Depois dormi de novo. Só me acordei quando senti alguém cutucando meu braço e dizendo ô, gremista! - sim, outro brasileiro. O cara tinha passado uns meses na França dando aulas de surfe e aprendendo francês. Nada mal...
   Minha CS hostess estava me esperando na estação em Bordeaux. Ela se chamava Nilda, era da Turquia e estava na França fazendo um Erasmus. Pra minha sorte, ela não trabalhava naquele dia e se dispôs a me apresentar a cidade. Tínhamos umas cinco horas de sol ainda e uma cidade a desbravar.
   Bordeaux é uma cidade compacta e encantadora - tanto que quase toda a cidade é tombada como patrimônio da UNESCO. A parte central tem séculos de história em cada esquina. Quem pensa que a cidade se limita a vinhos, portanto, se engana profundamente. A cada poucas quadras existem monumentos e placas contando das peripécias que os jacobinos e girondinos faziam por aqueles ruas estreitas onde hoje construções antiqüíssimas cedem seus espaços para redes de varejo cosmopolitas. E o melhor: se guiar por lá é muito fácil. Com ou sem mapa, não tem erro – ainda destaco os trams da cidade, que são novinhos e eficientes.

Vitrina decorada com ratos; no reflexo, eu e a Nilda

Chafariz Girondins


VIVENDO OS LIVROS DE HISTÓRIA

   Mais uma vez, tirei a sorte grande ao ter a Nilda como companhia no passeio: ela era (pois se formou ano passado!) estudante de Ciências Políticas. Assim, ia me contando a história de todos os lugares por que passávamos. Acabei tendo uma baita aula de história grátis e in loco. Entre outros lindos lugares, passamos pelo Grand Théâtre de Bordeaux, a Basilique Saint-Michel de Bordeaux, que tem uma torre tri alta (vide foto ao lado), um dos antigos portões da cidade – La Grosse Cloche - e um bairro de imigrantes africanos, onde andamos numa sinistra feira de frutas, e outro bairro de turcos.

Vista do alto da torre

 

   Acabamos pegando kebabs (com batata-frita completando o recheio) pra comer na beira do rio Garonne – que é, na minha opinião, a parte mais bonita da cidade. Anoitecia e as ruas estavam cheias de famílias, patinadores, ciclistas e vagalumes. Ao fundo, a bela Pont de Pierre e uma lua brilhante nascendo. Dificilmente esquecerei minha última noite (verdadeira) na Europa.

 



Pont de Pierre


   Na manhã seguinte, me dei ao luxo de dormir até umas nove e meia. Guardei o olho da sorte que a Nilda generosamente me presenteou e fui caminhar pela rua Sainte-Catharine em busca de um vinho acessível pra eu presentear meu pai. Achei pagar oito euros algo digno, considerando que eu estava andando por uma zona turística. Depois de almoçar com a Nilda e me despedir dela, tomei meu último trem até o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Meu mochilão estava acabando. E eu recomeçando...


É BOM TU SABER

   Paris é legal em muitos aspectos, mas o aeroporto entre dez e seis da manhã é pior que o de Porto Alegre. O relógio marca 22 horas e tudo fecha. Como cheguei às 21 :52 lá e só tive tempo de fechar minha mochila naquelas maquininhas à vácuo e pronto: não tinha mais nada aberto. Jantei batatinhas Lays sabor barbecue e dormi entre duas cadeiras, vigiado por soldados da legião estrangeira com fuzis, até meu vôo do dia seguinte.