sábado, 18 de dezembro de 2010

MOCHILÃO PELA EUROPA (PARTE 15: ROMA E VATICANO)

“O mundo é um livro, e aqueles que não viajam lêem apenas uma página”. (Santo Agostinho)


   Dormi umas boas dez horas, me despedi dos colegas de albergue de Florença e tomei meu AVI pra Roma. Diferentemente dos trens normais italianos, estes, que são mais caros, são pontuais e tri confortáveis. Às 12:59, como prometido, desembarquei na estação romana e fui tratar de conseguir um albergue para as próximas noites.
   Há umas duas ou três quadras da estação principal de Roma existe um lugar de gente muito boa chamado Enjoy Rome. Lá eles marcam passeios turísticos normais e alternativos, ajudam a comprar passagens, dão dicas de restaurantes baratos e também auxiliam na procura de albergues bons e baratos. Cheguei lá quando estavam passando o cadeado na porta. Porém ainda existem pessoas com coração neste mundo. A italiana gentil reabriu o lugar pra me atender e ainda conseguiu um albergue pra mim há duas quadras dali, a Pensione Fawlty Towers - que, embora seja meio velha, é bem aceitável.
   Meu farto almoço nos arredores da estação de trem, o baile que levei para conseguir passagem pra Lyon, o calor absurdo da cidade e minhas bolhas e feridas nos pés me motivaram a descansar um pouco no albergue. Deitei na cama e pisquei os olhos: eram 19:00. Eu tinha dormido umas três horas. Resolvi que ia ficar por lá mesmo até a manhã seguinte, trocando uma idéia com um alemão e um colombiano que eram meus colegas de quarto. Aprendi altas coisas sobre como o governo local conseguiu restabelecer a ordem nas favelas e reorganizar a vida das metrópoles, especialmente Medelín, cidade do meu amigo.


IMPOSSÍVEL DE SE ESCONDER

   Era domingo e o Papa ia rezar sua missa tradicional. Obviamente, optei por não ir ao Vaticano naquele dia com todos os outros turistas na cidade e trocar tapas por um lugar numa fila quilométrica. Fui pro
Coliseu, mas sem antes chegar a uma conclusão que dificilmente mudarei na minha vida: não importa aonde o cara vá, sempre haverá um (carazinhense) conhecido. No caso, quatro. Sim, numa esquina qualquer perto do meu albergue, encontrei uma amiga e seus familiares. Passadas aquelas conversas tradicionais do tipo Tu aqui? Mochilão?! Que loucura! Tua mãe deixou?, tomei meu rumo.
   Chegar na maioria dos pontos turísticos de Roma é fácil. O metrô quase sempre chega – e se não chega, pára perto. Contudo, só há duas linhas de metrô. O problema, me explicaram os italianos, é que cada vez que se cava pra construir qualquer coisa lá, sempre se encontra alguma relíquia histórica e daí é preciso chamar arqueólogos e blábláblá.
   Confesso que até aquele momento eu estava achando Roma uma cidade normal. Porém, quando saí do metrô e me deparei com o objeto da minha visita, tive que admitir: Roma é demais e o carinha que projetou isso era foda!


Fodástico, não?
 
   Paga-se uns dez, doze euros pra visitar o Coliseu e também a Cidade Antiga - que é tão ou mais impressionante. Como eu esperava, quase não tinha fila. Bati muita perna lá dentro, entre algumas esculturas e muita história. É difícil imaginar como aquilo tudo foi construído há muitos e muitos séculos atrás. E emocionante é imaginar este lugar com 50 mil pessoas, tremendo, e os gladiadores lutando entre si e com as mais temíveis feras.  
  Pode-se andar por toda a “arquibancada” do Coliseu, encostar nas paredes milenares, bater foto até cansar e até mesmo pegar carona nas excursões guiadas que rolam lá. Pena que não se pode ir nas galerias subterrâneas sob o chão onde aconteciam as batalhas – sim, pra minha surpresa, o chão foi removido para que fosse possível enxergar os “vestiários” e o labirinto por onde levavam as bestas até suas batalhas.


Bem maior que o Paulo Coutinho
 
 
   Do outro lado da rua está a Cidade Antiga. Admito que gostei mais dela que do Coliseu, pois ali o turista pode perambular sem a mínima limitação por uma cidade que começou a ser construída há dois mil anos atrás. Gastei umas três ou quatro horas caminhando e me desidratando por lá – ainda que houvesse várias fontes de água gratuita e limpa pelo monte Palatino, onde fica a Cidade.
   Ali tem muita coisa maneira. Desde estátuas dos Césares de todos os tamanhos (com ou sem cabeça), o Circo Máximo, o Estádio o Fórum Romano, o Arco de Tito e até mesmo o lugar onde teria sido a casa de Rômulo e Remo.

Cidade Antiga e Coliseu ao Fundo
 
Casa de Rômulo e Remo e, lá no fundão, a Basílica de São Pedro

 
   Antes de ir pro albergue, ainda visitei o Altar da Pátria - que é, na verdade, um museu. Ele é mais bonito por fora que por dentro, mas, como é de graça, vale a visita.
   Cansado e desidratado como poucas vezes havia me visto, capotei por outras três horas na cama do albergue. Apenas me acordei quando meu novo colega de quarto, uma iraniano, chegou. Também ouvi coisas muito interessantes do amigo, que contou, entre outras coisas, dos absurdos do regime ditatorial de seu país. Depois do meu terceiro banho naquele dia, dormi novamente.


VATICANO SEM MISSA
 
   Visitar o Vaticano na segunda-feira foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Naturalmente, o lugar estava cheio de gente, mas nada que gerasse fila mais demorada que dez minutos. O calor, novamente, era insuportável, mas dentro das igrejas e museus era fresquinho. Entrei pela Praça de São Pedro, que é linda e enorme. Também é estranho pensar que há 24 horas havia milhares e milhares de pessoas amontoadas ali.

 Ger já suado e grudento às 9h na Praça de São Pedro


    Feito o registro fotográfico, encarei uma breve fila pra entrar na Basílica de São Pedro. Que lugar mais massa! Ali dentro as obras de arte se empilham (destaque pra Pietà, de Michelangelo) e os turistas nem ligam pra escuridão que impossibilita fotos razoáveis. O poder da Igreja se nota também nos pequenos detalhes dos contornos em ouro de toda a igreja, no mármore espalhado por tudo e em qualquer outro lugar daquele imenso templo. Também visitei o Mausoléu dos Papas – e recomendo muito a visitação, apesar da proibição de fotografias. À exceção da Guarda Suíça, por razões óbvias, tudo impõe respeito e, ao mesmo tempo, inquieta.

Um dos altares da Basílica
 
   Contornando o Vaticano, chega-se ao Museu do Vaticano. Tem de tudo um pouco lá - a módicos oito euros pra estudantes. De tudo e por tudo, do chão ao teto! Múmias egípcias, os primeiros mapas da América de Colombo e, principalmente, obras de arte de todos os séculos. Pessoas do mundo inteiro se amontoam pelos estreitos corredores para viajar por toda a história da humanidade num só lugar.
   A Capela Sistina, ponto máximo da visitação, é, de fato, tão maravilhosa quanto se diz. Qualquer leigo em arte, como eu, consegue babar por muito tempo apreciando aquele tesouro que aquela galera do Renascimento deixou pra posteridade. A única coisa ruim de se visitar o local é aturar os seguranças, que ficam gritando para os outros se calarem e empurrando a multidão para fora da Capela, pois tem novos visitantes chegando.


Juízo Final, de Michelangelo

No centro, A Criação de Adão, também de Michelangelo


   Meu almoço foi perto das 15:00, ainda no Museu (que não tem preços abusivos). A última atração do lugar é a rampa de saída. Mais tarde, no albergue, tomei mais um banho e arrastei meu corpo pra estação de trem. Minha estada em Roma foi breve, mas a jornada pra Lyon já estava agendada – e eu mal sabia o que me aguardava.


É BOM TU SABER

   Do pouco que fiquei na Itália, dividiria os italianos em dois grupos: os que moram em cidades turísticas e os que não moram. Os que não moram são tranqüilos, amistosos entre si e adoram um estrangeiro. Os que moram, estão de saco cheio dos turistas e da vida. Pra piorar, os das cidades turísticas não falam (e/ou não fazem questão de falar) outro idioma. Com isso, tudo fica um pouco mais difícil.
   Quando fui reservar minha passagem pra Lyon, fui super mal-atendido. O carinha, que já tinha lá seus 50 anos de idade, embora falasse um inglês ruim, me ignorava completamente. Tentei falar português e também espanhol, mas não teve jeito. Parecia que eu falava com as paredes.
   Como meu leque de idiomas tinha acabado, fui obrigado a olhar na cara dele e dizer que eu não sairia dali sem minhas passagens. Eu só queria um atendimento digno. Depois de um longo suspiro do cara, com toda má-vontade do mundo, começamos então a tentar traçar meu rumo pra Lyon. O infeliz não fazia questão de simplificar as coisas e me colocou numa baldeação terrível, com trocas de trem em Milão e Chamberry, na França. Fiquei bravo, mas aceitei.
   Só que o cara jogou baixo comigo – e eu só descobri isso quando embarquei pra Milão. Como a viagem era noturna, eu tinha pedido uma cama (triliche). Porém minha cabine tinha dois bancos de três lugares cada. Assim, dividindo-a com outros cinco italianos, viajei sentado e com menos espaço que num avião com política de redução de custos. Impossível dormir. Pra piorar, o velhinho sentado do meu lado roncava muuuuito alto e às vezes caía com a cabeça no meu ombro (sem se acordar). Um inferno de sete horas de duração!
   Felizmente tudo acabou em Milão. De lá, peguei um trem humano até Chamberry e outro bem razoável até Lyon. E, claro, dormi durante todo o trajeto.

Um comentário:

  1. KKKKK MUITO VÁLIDO SUAS COLOCAÇÕES.EU RI DEMAIS COM A SITUAÇÃO DO VELHINHO RONCANDO,MAS COM CERTEZA ESSAS 7 HORAS DEVEM TER DEMORADO UM SÉCULO PARA PASSAR.

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