terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MOCHILÃO PELA EUROPA (PARTE 9: MALMÖ)

“Uma jornada é melhor medida em amizades do que em milhas” (Tim Cahill)

   A minha breve passagem por Dinamarca e Suécia foi definida ao acaso. Acabei optando por esses países só ao receber meu passe de trem e descobrir que eles eram cobertos pelo passe. Assim decidi que faria um leve desvio no roteiro inicial e que ele seria pautado na disponibilidade de trens. Foi desta forma que conheci Malmö. Só fui praquela desconhecida e encantadora cidade pois era de lá que partia um trem noturno pra Berlim (cidade que estava no meu roteiro inicial). No fim do meu segundo dia, eu não queria mais ir embora.
   Parti de Copenhague só perto do meio-dia. Eu havia me dado ao luxo dormir até mais tarde e descansar um pouco. A viagem até Malmö dura apenas cerca de 20 minutos, mas é pra lá de interessante. A começar pelo fato de ninguém fiscalizar se tu tem passagem pra fazer a viagem ou não. Fiscais são raros por lá, afinal manés também são. Todavia, o ponto alto da viagem é a Ponte de Øresund, que liga Copenhague (Dinamarca) à Malmö (Suécia), cruzando o oceano. Pra completar a paisagem, dezenas de hélices geradoras de energia eólica passam lentamente pela janela do trem veloz.

Hélices de energia eólica no mar entre a Dinamarca e a Suécia


PARADISE CITY

   A estação de trem de Malmö fica há umas três quadras do centro da cidade e do parque Slottsmöllan. Logicamente que optei pelo parque, em detrimento às lojas globais que satisfazem à população local e aos raros turistas que passam pela cidade. O parque é enorme, bem arborizado e limpo. Ele sempre está cheio de gente descanso, lendo livros, passeando de bicicleta ou pedalinhos ou pescando. Praticamente dentro do parque também fica o cassino da cidade, um palco pra shows de médio porte e os museus locais.
Slottsmöllan

   Entrei num museu que apresentava a vida de Nelson Mandela através de imagens e palavras. Vi a parte da exposição que era de graça, mas não paguei pra ver o resto. Não que não fosse interessante, mas eu tinha muito ainda pra ver. Depois fui das uma bisbilhotada no Museu de Ciências e Tecnologia de Malmö. Entrei na lojinha do lugar pra ver se achava alguma bugiganga interessante e fui andando pela loja que me parece imensa. Quando me dei por conta já estava dentro de um submarino nos fundos do museu e, em seguida, vendo uma catapulta ao vivo (foto). Sim, meus amigos, eu confesso, entrei ingenuamente no museu sem pagar e sem ser visto. Por outro lado, não fiquei mais de 15 minutos lá dentro e tomei minha gafe como “uma breve visita ao museu”.
   A minha meta naquela tarde era chegar ao Turning Torso um arranha céu megamoderno que contrasta com os prédios antigos e pequenos da cidade). Pra chegar lá não precisa de mapa. O prédio é tão alto que pode ser visto de qualquer lugar da cidade. Porém, mais uma vez, tive uma grata surpresa. Chegando num cruzamento, o mochileiro aqui teve a visão do paraíso e em seguida o dilema: se eu fosse para a direita iria em direção a um monte de concreto chamado Turning Torso; se eu fosse para a esquerda encontraria uma praia (que até então eu não sabia que existia) habitada por belas suecas em biquínis – com algumas inclusive praticando topless. Fiquei numa dúvida cruel por aproximadamente 17 centésimos de segundo e, sem remorso posterior, optei pela praia.
   Embora a temperatura fora da água fosse 23 graus e o vento fosse equivalente ao das praias do Rio Grande do Sul, o povo sueco não tava nem aí. Aquele era um lindo dia e isso já era motivo suficiente para um mergulho naquela água cristalina, cheia de algas e gelada. Muitas pessoas optam por fazer snorkling lá também, tirando proveito do fato da água ser rasa por muitos metros mar adentro. Passei bons momentos naquele lugar...

Turning Torso visto da praia


Cisne perdido na praia de Malmö

   Mais pro fim da tarde, comecei a voltar pra estação de trem. Eu tinha de buscar minha mochila lá e também encontrar a Emma, minha hostess na cidade. Passando por dentro do mesmo parque de antes, mas por outro caminho, descobri a biblioteca da cidade. Por mim, eu me mudava praquela biblioteca hoje mesmo! O prédio tem quatro andares e tudo o que tu imaginar. O cidadão tem acesso à internet gratuitamente, pode pegar tudo que é livro em tudo o que é língua, revistas e CDs do mundo todo (a sessão brasileira é recheada de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil), filmes e, o mais legal, jogos de videogame. Sim, videogame. É a única coisa que é cobrada uma taxa, mas muito módica.
   Logo depois que encontrei a Emma, fomos largar minha mochila na casa dela. A caminhada durou uma meia-hora e foi pra lá de interessante. Ela é tri legal e já veio 5 vezes ao Brasil, fato que justifica o português perfeito dela, inclusive com sotaque carioca. Ela hoje trabalha numa empresa que apóia outras empresas escandinavas desenvolvedoras de jogos de videogame, mas já fez de tudo um pouco nessa vida. Cursou duas faculdades meio alternativas, trabalhou em ONGs e já morou em outros países.

Emma e Ger



NO CEMITÉRIO

   Depois que larguei minhas tralhas no apartamento dela, ela se propôs a me levar fazer um tour diferente pelo bairro dela – que é o mais rico culturalmente, pois é composto de imigrantes de todas as partes. Dentre tantas coisas massa que vimos, destaco o cemitério aonde ela vai à noite andar de skate. As famílias suecas capricham nos túmulos de seus familiares com muitas esculturas e árvores. Por fim, outra coisa que achei peculiar, foi o fato de que abaixo do nome do defunto, escreve-se também a sua profissão.
   Outra coisa que me chamou muito a atenção foi as sinaleiras exclusivas para as bicicletas e também os contadores de tráfego de bicicletas. Achei o máximo observar que raras são as pessoas que andam de carro em Malmö. Não que a cidade seja pequena, mas ela é bem estruturada o suficiente pra quase ninguém ser dependente de um carro. Ainda antes de voltarmos pra casa, jantamos comida árabe, mais especificamente um kebab (foto), que é uma espécie de panqueca recheada com carne, salada e muuuuito molho muuuuito picante. Curti muito meu passeio com a Emma!

Sinaleira para bicicletas e contador de fluxo de bicicletas.

Cemitério de Malmö


OUTRO DILEMA RESOLVIDO EM 17 CENTÉSIMOS

   Eu havia considerado ir pra Helsingborg no dia seguinte, mas abri mão disso pra conhecer a Martina. Na verdade, era a Martina que tinha ficado de me hospedar em Malmö, mas por conta de datas acabou não dando certo. Contudo, na última hora, entrei em contato com ela e descobri que ela estava na cidade e resolvemos nos encontrar.
   Como ela só ia estar disponível mais pro fim da tarde, me dediquei a zanzar pela cidade. Descobri uma loja que vendia todas as camisas de time de futebol do mundo. Passei mais de hora lá. O dono da loja tentou me convencer a vender a minha do Grêmio (a preço de banana) pra ele, mas sem sucesso. Depois ainda visitei uma igreja chamada S:t Petrikyrka, cheia de detalhes em ouro, visitei algumas pracinhas e também vaguei pelo comércio local. Por fim, passei mais algumas horas naquela biblioteca fantástica de que havia falado antes.
   No horário combinado, encontrei a Martina na estação de trem, largamos a bicicleta dela num estacionamento qualquer e fomos tomar um suco naquela bela tarde ensolarada. A Martina foi uma das pessoas com que mais mantive contato antes de ir pra Europa, então aquelas conversas iniciais que se tem com qualquer pessoa que tu recém conheceu já haviam sido superadas. Assim, nossos papos foram mais profundos e proveitosos.
Martina e Ger
 
   Fomos ver o entardecer na beira de um dos lagos do Slottsmöllan e jantamos juntos num Subway qualquer. Depois ainda tivemos de vasculhar a cidade em busca da bicicleta dela, pois não lembrávamos onde a tínhamos deixado. Na despedida, presenteei a Martina com uma fitinha de Nossa Senhora Aparecida, assim como fiz com todos os outros hosts e hostess que tive, mas ela foi a que mais gostou :)
   Naquela noite peguei meu primeiro trem noturno. Berlim me aguardava e a expectativa era imensa - e, como vocês verão em breve, não foi à toa!


É BOM TU SABER

   Sabe aquela fama que a Suécia tem de ser o lugar das mais lindas mulheres do mundo? Pois é, até onde eu pude testemunhar, é verdade. Mas eu vou além e altero a afirmação anterior: a Suécia é o lugar onde existem as mulheres mais encantadoras. As suecas não são apenas belas, elas são inteligentes. Além das pernas naturalmente torneadas pelo pedalar diário de suas bicicletas, dos olhos claros e tudo mais que as fazem esteticamente atraentes, elas encantam mesmo quando abrem a boca. Extremamente educadas, poliglotas e completamente ligadas com o que está acontecendo no mundo todo, fui obrigado a admitir que, ao menos proporcionalmente, as suecas matam a pau!

Um comentário:

  1. hahah
    Devo tentarei ir a Copenhagem e Malmo no final de setembro... ficarei uns 3 dias na região.
    Quanto pagou no trem pra Berlin? È boa a viagem?

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