Foi estranho voltar pra Pittsburgh ali em meados de 2010. Aquela cidade havia sido meu lar durante todo o ano de 2005 e estar lá novamente me fazia resgatar as mais variadas memórias e sentimentos. Na verdade, acho que eu até poderia utilizar a cidade para separar diferentes momentos da minha vida. Quando fui pra lá pela primeira vez, em 2001 e ainda no colégio, descobri que valia a pena falar inglês – pois os americanos, realmente, me entendiam. Em 2004, no ano que antecedia a minha transição para a universidade, vi que com um pouco de força de vontade dava pra eu realizar meu sonho de estudar numa faculdade no exterior. Em 2005, já estudando na CCAC, aprendi que era possível viver em meio aos americanos, crescer com eles e, ao mesmo tempo, ser diferente deles. Muito do meu amadurecimento passou por Pitt e as vivências tive por lá. E agora eu estava de volta e, mais uma vez, numa nova fase: no final da faculdade, com um trabalho bacana e uma vida até bastante atribulada pra alguém com 23 anos. Aqueles 10 dias em Pitt serviriam para flashbacks, compras, reflexões, reencontros e aprendizado – não necessariamente neste ordem.
Tudo havia mudando, ainda que mantido sua essência. Meus tios (que moram lá há anos e que foram responsáveis por muito do que vivi e cresci enquanto em Pitt e depois) seguiam com a mesma disposição e amabilidade, mas meus imãos mais novos priminhos estavam gigantes, por exemplo. Esta questão do “mudar não mudando” me pareceu se aplicar também à cidade e motivou ainda mais a aproveitar aqueles poucos dias que eu teria por lá. Era hora de eu redescobrir Pittsburgh – só que isso apenas no segundo dia, pois tínhamos muito que conversar.
MY PITT
Desconheço a razão por eu não ter desfrutado mais de Oakland, o bairro onde minha tia trabalha e que eu sempre ia depois das aulas. É um bairro cheio de estudantes, parques, museus, bares e universidades. Talvez por eu ter passado tanto tempo lá, eu não dei o valor que o bairro merecia. Mas o momento da reconcialiação havia chegado. Decidi voluntariamente me perder naquelas redondezas e ver onde eu ia parar. Primeiro passei pela Cathedral of Learning, que é um prédio imenso da Universidade de Pittsburgh em estilo gótico, mas que não é catedral. Depois passei por uns jardins meio aleatórios, umas casinhas antiiiigas, hoje habitadas por estudantes, e fui parar no Phipps Conservatory and Botanical Garden – um jardim botânico tri legal que eu achei digno de ser revisitado. Eles costumam ter um tema para as flores e plantas que expoem, e desta vez o tema era o gótico, gargulas e derivados. Muito legal!
Sim, o monstrinho é pura puro galho e folhas secas
Fui almoçar na Craig Street. É uma rua que eu curtia visitar quando morava lá. Ela é cheia de barzinhos, lojinhas e muquifos. Muita coisa era nova, mas um barzinho/muquifo meio sinistro permanecia: o Maximum Flavor. Tomei coragem e encarei! O lugar realmente não é muito limpinho, os atendentes não são os mais gentis, mas a pizza é muuuuito boa e barata. Comi dois pedações de pizza e bebi Coca à vontade por menos de cinco dólares.
Ainda naquele dia fui no Soldiers and Sailors National Military Museum and Memorial, que tem no seu prédio a mesma imponência que o seu nome. Lá dentro existem todos os tipos de armas, muitos manequins com roupa de soldado, muita exaltação aos “heróis” americanos das guerras passadas e atuais e nada que mude a vida de alguém. Paguei mais caro que meu almoço pra ir lá e só estas duas coisas abaixo conseguiram me inquietar:
Fachada do Memorial
Cabeça do John Kennedy (WTF?!)
Manual do Prisioneiro de Guerra - será que alguém leva isso a sério?
No dia seguinte, ainda por Oakland, paguei uma dívida comigo mesmo e fui conhecer o Carnegie Museum of Natural History e o Carnegie Museum of Art. É vergonhoso eu não ter visitado esses lugares enquanto vivi lá. Eles são grudados um no outro e tu consegue visitar os dois num mesmo dia. É muito tri. No primeiro, fiz a festa com tanto fóssil de dinossauro. Até ovo de dinossauro tem lá (e pasmem: o ovo é redondo!). A coleção de aves e insetos que tem lá também é bem tri. O museu de arte tem muita coisa legal também, porém nem tudo pode ser fotografado.
Ovo de dino; é do tamanho de uma bola de futsal
Fiz amigos lá
Saí dos museus depois umas seis, sete horas lá dentro e fui almoçar na Craig Street de novo. Mais especificamente nos Crepes Parisiennes, que faz uns crepes bem bons e em conta. Desta vez, num lugarzinho charmoso que faz crepes e derivados.
Bem bom!
PIMPONICES
Neste meio tempo, obviamente, eu ia aproveitando meus familiares e antigos amigos também. O Dudu, meu priminho, era sempre parceiro pra jogar futebol no quintal ou na escola dele (sim, ainda que ele estivesse de férias, a escola fica aberta pra comunidade). Com a Luiza, minha prima, ficávamos viajando nosso pátio à espera de visitantes silvestres. Também consegui rever alguns amigos com quem convivi enquanto morei lá. Fiquei muito feliz em revê-los e ver o rumo que suas vidas tomou.
Ger e Dudu
Numa outra noite, os pais do meu tio (que também estavam em Pitt visitando a todos), meus tios e eu tivemos a noite dos adultos. Fomos ao cassino que agora se instalara na cidade. Quando eu morava lá a jogatina era proibida. Agora as autoridades se ligaram que isso pode gerar emprego e grana e deixaram um, e apenas um por enquanto, se instalar em Pitt. As apostas nunca me interessaram, mas os restaurantes que têm lá dentro são muito bons. Comi todas buffalo wings possíveis e ri muito aquela noite.
Dona Ruth, tio Enio, tia Sara, Ger e seu Enio
Buffalo Wings!!
Naquele fim-de-semana, meus tios iam levar a família pra Erie, num parque aquático. Encarnei a criança infantil que há dentro de mim e fui junto. A viagem foi rápida (até porque as estradas lá são boas) e logo estávamos no nosso destino. Fomos primeiro numa praia artificial que existe numa península de um pequeno parque à beira do lago... Erie, lógico. É tudo bem simpático e limpinho, apesar da água ser absurdamente gelada.
Praia artificial de Erie
E no final do dia veio a redenção do criaredo: o Splash Lagoon! Bem maneiro o parque. Ele fica dentro de um complexo de hotéis, totalmente coberto e aquecido. Crianças de todas as idades vão lá e fazem a festa. É bem divertido e os preços são razoáveis.
Lá vai o Ger
NOS ACRÉSCIMOS
Outro dia desses, já em Pitt de novo, fui conhecer a “nova” zona sul da cidade. Parte do local, principalmente a parte que margeia o rio, foi revitalizada. A zona, que antes era sinistra, agora é viva e diversificada. Tem ciclovias, restaurantes, lojas, praças e tudo mais. Muito massa! Passei o dia inteira vagando por lá, sendo que cerca de uma hora dentro da loja REI e mais um tempo considerável dentro da Urban Outfitters. São duas lojas bem completas e diferentes.
Entretanto, a parte mais legal foi o meu almoço. Eu estava voltando à pé em direção ao centro, já numa parte não tão bonita, mas ainda interessante, quando tomei coragem de entrar no SouthSide Steaks. O lugar não é mais tão bonito, inteiro e limpinho como no link, mas faz uma steak pizza (que na verdade é sanduíche) dos deuses. Custou uns sete dólares com a bebida, ficou pronto em dois minutos e o cara que o preparou era um gangsta malvado. Almoçado, ainda tive tempo de olhar as lojinhas alternativas das redondezas, pegar os busões que eu costumava pegar pra ir pro centro e dar umas bandas por lá. Foram flashbacks gostosos.
Ainda antes de ir embora, eu tempo pra umas fotos clássicas no Mount Washington, andar de funicular no Duquesne Incline, passear na beira do rio, comprar as bugigangas que eu queria, resistir à tentação do Hooters e ir no (também delicioso) City Buffet e tomar um dos melhores milkshakes do mundo, comendo um hambúrguer fodástico.
Em Mount Washington com a Luiza
Quando chegou a hora de ir embora, eu estava com um sentimento de dever cumprido. Eu havia conseguido fazer tudo o que tinha almejado, num ritmo tranqüilo e aproveitado ao máximo. Acho que foi a minha melhor estada em Pittsburgh, pois consegui olhar pra cidade com outros olhos e de forma mais madura. Assim, pude ver o quanto a cidade mudou desde 2005 e, ao mesmo tempo, analisar o quanto eu mesmo evoluí desde então.
Feliz da vida com minhas viagens e reflexões, dormi muito entre Pitt, Dallas, Austin, Houston, São Paulo e, finalmente, Porto Alegre. Mas, lógico, ainda deu tempo pra mais uma comilança: o tal churrasco texano que quase ficou pra trás. Ele é ok, mas dei graças a Deus de estar a 24 horas de uma churrascada de verdade.
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