sábado, 28 de janeiro de 2012

ROCKING RIO

   
   Ir a um festival de música como o Rock in Rio foi um sonho que alimentei desde pequeno. Esperei muitos anos pra que a oportunidade pintasse e, quando ela surgiu, não perdi a chance. De cara, comprei ingressos pra dois dias: o do metal, com Metallica e Motörhead, entre outros, e pro dia do rock alternativo, com Coldplay fechando a noite pro Júpiter Maçã.
   Como cada dia do Rock in Rio que resolvi ir era num final de semana diferente (e os gastos com passagem aérea seriam em dobro), resolvi fazer dois bate-e-volta. Em outras palavras, ir do aeroporto pro evento e do evento pro aeroporto – economizando, assim, uma grana legal que seria gasta com hospedagem. Eu pegaria ônibus de linha, que segundo o site do evento, estariam disponíveis 24 horas por dia, e não me incomodaria com muitas coisas mais. Ao menos na teoria. A prática foi bem diferente.

 
GOING WITH THE FLOW, IT’S ALL A GAME TO ME
Dia 25 de Setembro de 2011, metaleiros de todo o país se dirigem ao mesmo lugar. Estávamos todos eufóricos e nem as duas horas que levamos com a sugestiva linha Frescão do Aeroporto do Galeão até o tal do Terminal Alvorada para pegar mais 45 minutos num outro ônibus até o evento incomodou. Na verdade, serviu pra eu ver, ainda que da janela, vários pontos turísticos da cidade: Pão de Açúcar, Cristo Redentor, toda a orla, Centro de Tradições Nordestinas, o campinho onde o Ronaldo começou a jogar bola, a rodoviária, o Aeroporto Santos Dumont, o centro histórico e muita coisa que eu nem sei o que era. Enfim, segundo o Google, mais ou menos 60 quilômetros de passeio.

Roteiro aproximado da aventura
  
   O evento em si foi beeeem legal, apesar de alguns pesares. Todos os shows mataram a pau e a Rock Street foi definitivamente a parte mais legal do festival. Por outro lado, a fila pra comprar comida (ou o que restou dela) foi lastimável, os ambulantes intimidadores do lado de fora assustavam, mas não mordiam, o número de pessoas poderia ter sido mais limitado e os banheiros mais limpinhos. Ainda assim, valeu muito a pena.

Rock Street
 
Artistas de rua destruindo



Com o Alemão Vitor Hugo, da Ipanema FM



THAT’S THE WAY I LIKE IT BABE, I DON’T WANNA LIVE FOREVER
   Porém o mais memorável do Rock in Rio foi o pós-festival. E não é que eu não tenha curtido, mas é que os fatos posteriores ao evento foram inimagináveis e ao mesmo divertidíssimos. Tudo começou depois de Enter Sandman. O show do Metallica se encaminhava pro seu final e eu resolvi me antecipar à multidão que disputaria a tapas os ônibus pra sair da Cidade do Rock. Deu certo. Caminhei em meio à escuridão, quase fui atropelado por ambulantes fugindo da polícia e consegui pegar um busão até o Terminal Alvorada. Lá eu deveria pegar um Frescão até o Galeão. Deveria.
Ger: Amigo, onde que fica o ônibus pro Galeão?
Agente de Trânsito: Porra... Tu quer ir pro Galeão?
Ger: Sim.
Agente de Trânsito1: Não tem não.
Ger: Como assim?! No site dizia que ia ter.
Agente de Trânsito1: Fala com aquele cidadão lá. Ele pode te informar.
Ger: Amigo,  onde fica o ônibus pro Galeão?
Agente de Trânsito2: Ishhh, essa hora não tem. Tu quer ir pra onde?
Ger: Pro Galeão.
Agente de Trânsito2: Não tem agora. Só a partir das 7:00.

   Bem, era umas 2:30 da manhã. Ficar ali até o primeiro bus chegar não me pareceu muito recomendável. Lembrei que eu havia passado pelo aeroporto Santos Dumont quando havia ido pro festival, ou seja, ele ficava no caminho pro outro aeroporto. Assim, eu dormiria lá e depois que amanhecesse eu iria pro Galeão. Meu vôo era só às 13:00 mesmo...
Ger: E pro Santos Dumont tem algum?
Agente de Trânsito2: Tem aquele ali. Ele não vai pro Santos Dumont, mas passa perto.
Ger: Perto quanto?
Agente de Trânsito2: Perto.

   Larguei o carinha de mão e fui falar com cobrador do ônibus.
Ger: Esse ônibus passa perto do Santos Dumont?
Cobrador: Passa.
Ger: Perto quanto?
Cobrador: Pertinho.
(Será que os cariocas não conhecem metros, quilômetros ou quarteirões pra transmitir alguma noção de distância?!)
Ger: Dá pra caminhar da parada até o aeroporto?
Cobrador: Olha...
   
   Nisso, um casal de estranhos se intrometeu.
Mulher: A gente tá hospedado num [hotel] Ibis ali perto. Tu pode ir com a gente e pegar um táxi do hotel até o aeroporto.

   Eis o dilema: esperar amanhecer num terminal de ônibus sinistro ou aceitar a proposta de um casal de estranhos? Resolvi dar um voto de confiança ao casal metaleiro e subi no busão.
   
  Tenho apenas flashes da viagem de ônibus até o hotel. Cochilei bastante a partir do momento que consegui um lugar pra sentar. Apenas lembro que o motorista chegava a colocar 120 km/h nas avenidas desertas da cidade. De qualquer forma, o importante é que quando chegou a hora de descer, o casal me acordou e descemos os três.
   A rua estava vazia, mas bem iluminada. Conversei com o casal e pressenti que eles eram gente-boa. Umas duas quadras depois, avistei o hotel e vi que tudo era verdade. Como não havia nenhum táxi ali, entrei no hotel pra pedir que chamassem um pra mim. Contudo, não havia ninguém na recepção. Fui no barzinho do hotel e encontrei o recepcionista literalmente dormindo em pé. Eram 4:00 e uma idéia me veio à cabeça.
Ger: Amigo, eu tenho que ir até o Santos Dumont, mas tenho medo de andar sozinho pela rua nessa hora. Tem como eu ficar por aqui até amanhecer?
Recepcionista: Zzzzz... Hã? Claro!
Ger: Beleza!
    Não deu outra. Encontrei um sofá confortável, um pufe pros pés, ajeitei o capuz do meu moletom como travesseiro e dormi no barzinho até às 6:30. Coisa mais medonha linda.
   Eu estava cansado demais pra me importar com o que os outros iam pensar. Quer dizer, na hora não tinha ninguém pra ver aquela cena. A única outra pessoa que estava por lá também estava dormindo. Por outro lado, quando eu acordei, comecei a lembrar do que eu ouvi durante aquelas duas horas e meia de cochilo.

Diálogo I
Estranho1: Quem é esse aí?
Estranho2: Não sei. Quem é ele, Fulano?
Estranho3: Também não sei. Já tava aí quando eu cheguei.

Diálogo II
Estranho4: Pelo jeito o Rock in Rio foi forte. Aquele ali nem subiu pro quarto.
Estranho5: E olha como baba! Com certeza bebeu todas.

Diálogo III
Estranho6: Psss, Sicrano. Não fala alto, vai acordar o defunto.
Estranho7: Ele tá pior que a gente.

   Passado esse instante de flashbacks vergonhosos, retomei a minha cara de pau, e fui no banheiro do hotel. Escovei meus dentes e troquei de roupa – o que serviu pra amenizar a minha cara de zumbi. Depois disso, me despedi do carinha da recepção (que já não era o mesmo de quando eu havia chegado) e fui caminhando até o Santos Dumont, que, como vim a descobrir, ficava a uma (gigantesca) quadra dali. Economizei R$300,00 – diária mais barata daquele Ibis – e não corri riscos maiores. De lá peguei o Frescão até o Galeão, consegui antecipar minha passagem de volta pra Porto Alegre e, enfim, descansei.
  
DOUBLE UP OR QUIT, DOUBLE STRAKE OR SPLIT
   E no outro fim de semana?, vocês devem estar pensando. Simples. Fiz tudo igual, hehe. Acabou o show do Coldplay, peguei os mesmos ônibus, desci perto do Ibis, contei a mesma história (pra um recepcionista diferente), dormi lá e no raiar do dia fui embora. As diferenças foram sutis: desta vez dormi no hall de entrada do hotel, ouvi comentários diferentes, mas na mesma linha, e na volta ainda rachei um táxi com três nordestinos que encontrei na parada do ônibus até o aeroporto.
   Economizei outros R$300,00, não fiz mal a ninguém, descansei e, no máximo, tenho agora alguma foto minha espalhada pelos hotéis Ibis com um Procura-se embaixo.
 
Até o Burp ganhou lembrancinha do RIR

 
 
* Os três subtítulos deste post são trechos de Ace of Spades, do Motörhead. A banda do cara mais foda do rock n’roll, o Lemmy.
** Quer saber por que o Lemmy é foda? Clica aqui e assiste.
*** Tá afim de saber sobre os shows do Rock in Rio? Vem aqui.

2 comentários:

  1. Ger, seus posts são sempre muito engraçados. Sinceramente, fico me perguntando se tudo isso realmente acontece contigo, ou se metade é fantasia ou fruto da tua imaginação fértil?
    Além de estar presente no dia 28/04 na minha festa, ainda quero um post! hahahahah
    Queria muito ter ido ao Rock in Rio, só pra assitir o coldplay- yellow, paradise, clocks e tudo mais.
    Adorei os óculos!rs
    Beijo

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    1. Não sei até que ponto eu conseguiria inventar histórias deste naipe, Rafa. Elas simplesmente aconteceram e por isso mesmo as tenho que imortalizar. Um beijo.

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