quinta-feira, 10 de setembro de 2009

MOCHILÃO PELA EUROPA (PARTE 3: LONDRES)*

“O verdadeiro artista não é aquele que está inspirado, mas aquele que inspira as outras pessoas.” (Salvador Dalí)

   A rodoviária de Paris fica num canto da cidade e é deserta. Afinal, andar de ônibus na Europa é coisa de pobre ou mochileiro. Todos que têm um mínimo de renda têm condições de andar de trem ou avião. No meu caso, o ônibus foi a melhor opção pra chegar à Londres, já que a Inglaterra não é coberta 100% pelo meu passe de trem.
   A viagem dura longas oito horas em um ônibus menos confortável que os daqui do Brasil. Vai-se até Calais, na França, e, de lá, cruza-se o Canal da Mancha até Dover, na Inglaterra – às vezes de barco, às vezes de trem, pelo Euro Tunnel. Todavia, só se entra na Inglaterra depois de passar pela temida Imigração. E como os caras complicam! Eles queriam ter certeza de que eu ia embora da Inglaterra: além do meu passaporte, pediram minha carteirinha de estudante, comprovante de reserva do albergue e passagem de volta pro Brasil. Depois disso, me deram um visto de permanência por seis meses lá – que é o mínimo. A paisagem rural da França fica pra trás tão logo se chega na Inglaterra. Lá as casas circundam as autopistas – que, por sua vez, têm como atração principal os carros onde o motorista senta do lado direito do carro.
   Lógico que havia um outro brasileiro no ônibus! E que mala ele era! Infelizmente, por conta daquela confusão na Imigração, ele descobriu que eu também era do Brasil e, a partir dali, ele me adotou como melhor amigo dele. Sem que eu perguntasse, ouvi todos os relatos da vida dele. Desde a infância em Brasília até os planos de morar clandestinamente na Inglaterra e virar DJ do dia pra noite. Por fim, quando deixei escapar meus planos de ir pra Amsterdã, ele disparou: “É, tu tem cara de quem fuma uns”. Não precisei de mais nada.
   Cheguei à tardinha em Londres e fui direito pro albergue. Os quartos eram apertados: haviam nove camas num espaço minúsculo, mas existia certa privacidade já que cada cama tinha uma cortininha. Meu bairro, Pentonville, era cheio de imigrantes. Eles se apresentavam nesta ordem: indianos, indianos, indianos, palestinos, indianos, latinos e, depois, mas só depois, chineses – além de alguns indianos.

O quarto era tão pequeno que eu nem consegui enquadrar as nove camas na foto.
A mochila ficava o tempo inteiro lá e ninguém mexia. Detalhe nas meias secando no meu “varal”.
 
 
FLEXIBILIDADE LONDRINA
 
    O dia seguinte veio com uma garoa fininha que se estendeu até a metade da tarde. Um típico dia londrino, como eu queria ter visto! Comecei pela famosa Tower Bridge. Ela é tri bonita mesmo, cheia de badulaques. Quando fui cruzá-la, um transatlântico estava passando, daí acabei mudando meus planos e fui dar uma volta pelo bairro – e essa foi a escolha certa!
   Diferentemente do outro lado da ponte, que tem um castelo de muitos séculos de idade, o lado de cá é de vanguarda. Nele estão alguns prédios alternativos, restaurantes cool e gente diferente. Tudo isso faz com que o Museu do Design esteja no lugar certo. Ele é pequeno, mas dá pra ficar horas lá dentro. As exposições são temporárias e abordam vários temas diferentes, como música, arquitetura e quadrinhos. Quase tudo muito colorido, para a alegria da criança infantil que vos escreve.

Enquanto tu tenta descobrir quais câmeras são verdadeiras, os demais visitantes do museu se divertem com a tua cara de bobo que vai sendo registrada.


Museu do Design


   Do outro lado da ponte, as coisas mudam. Parece que se volta no tempo. O Tower of London é um castelo que te transporta para a Idade Média e tu pode caminhar por entre ruas e dependências daquela cidadela que outrora foi lar de reis e rainhas. Tudo é indicado e tem uma breve explicação, desde a cama do rei até os instrumentos de tortura – bem interessantes, diga-se passagem.
  Agora, se tu tem paciência (e tempo de sobra), vale a pena fazer a visita guiada. Os carinhas se vestem com as roupas da época e vão contando toooooda a história do castelo, dos reis, das guerras e tudo mais. Eu fiquei uns quinze minutos na tal visita guiada, mas, nesse tempo todo, nós nem saímos do lugar e eu tinha muito pra conhecer ainda.
E pensar que isso tem lá seus 600, 700 anos.
Corvos criados a Toddy.

   Todo mundo falava na London Eye – aquela roda-gigante gigante –, mas eu não me entusiasmava em visitá-la. Porém, quando eu cheguei nos arredores de Londres os meus planos mudaram mais uma vez. Ela não é só gigante. Ela é absurdamente gigante e eu a vi muito antes de ver alguns dos maiores prédios da cidade. Eu precisava ter o gostinho de estar lá em cima. Assim, naquela tarde, de ingresso (doído de caro) em mãos, fui no passeio – afinal, esse é o tipo de coisa que se faz uma vez na vida.
   A sensação é totalmente diferente daquela que tu tem ao andar numa roda-gigante tradicional. Ali, além de ser tudo novidade, tu tem uma mobilidade muito maior lá dentro e os aviões parecem voar pertinho de ti. O mais impressionante é que Londres se estende até onde os olhos alcançam e além. Tudo é bonito também de cima.

Casas do Parlamento e Big Ben
 
   Depois veio a melhor parte do meu dia! Vagando pela beira do rio Tamisa – que é bem legal, cheia de bares, museus, artistas de rua e outras atrações – encontrei uma exposição do Salvador Dalí. Eu confesso que não sei quase nada de arte, mas aquele cara era foda! Ele não só pintou o quadro que eu tenho uma cópia na sala do meu apartamento, como chocou o mundo com sua arte surrealista. O cara fez de tudo um pouco: quadros, esculturas, desenhos e até móveis e vestidos! Além disso, a mostra também contava com um ala contando a vida do artista e outra interativa, para crianças. Ali eu descobri que o Dalí também teve algumas máximas sensacionais, como aquela que eu selecionei pra abrir meu post de hoje. Nela, eu vi o retrato da minha tia-mãe Sara que me inspirou pra essa viagem inesquecível :)
   No fim do dia, ainda consegui visitar a Westminster Abbey, uma igreja anglicana de mais de mil anos. A visitação tinha sido encerrada já fazia um certo tempo, mas havia uma missa acontecendo – e, naquelas circunstâncias, eu era um anglicano fervoroso. Não pude fotografar nada lá dentro, mas curti muito o lugar. A igreja é enorme, cheia de estátuas ricas em detalhes e o ouro está por toda parte.
   Doze horas depois e com três bolhas apenas no minguinho do pé esquerdo, voltei podre por albergue. Fiz amizade com um pessoal da Austrália e da França e observei que o metrô passava literalmente debaixo da minha cama – não que isso tenha atrapalhado o meu justo sono.


ELEMENTAR, MEU CARO WATSON

   No sábado, fui realizar meu sonho de adolescência: conhecer o Museu do Sherlock Holmes. Tá, pode rir, mas eu li todos os livros dele. O Sherlock Holmes era muito mais fodão que o Harry Potter e eu não abro mão disso! Enfim, nada disso vem ao caso agora porque antes de visitar o Holmes, eu fui no Museu de Cera Madame Tussaud’s.
   O tal museu é (muito) caro, mas, de novo, é o tipo da coisa que se faz uma vez na vida. Ainda assim, os turistas não parecem se importar muito com o preço e se aglomeram pra bater foto com as celebridades que talvez nunca vão conhecer pessoalmente – e essa é a essência do museu! As réplicas são muito reais, confesso, e me permitiram, ao menos, umas fotos divertidas.

Samuel L. Jackson e John Travolta
Foi melhor ir ver o Pelé.
Beatles e figurantes
Jimi Hendrix
"Toca aqui, Bush. Oops, peitinho!"
 
   O Museu do Sherlock Holmes fica, obviamente, no famoso endereço 221b Baker Street. Eu estava tão faceiro como uma criança na Disney ao conhecer o Mickey Mouse. O lugar é exatamente da forma que eu imaginava e só fãs no meu estado ou mais doentes vão lá. E o mais legal: tem um carinha fantasiado de Dr. Watson pra te receber e contar várias aventuras. Eu estava pra lá de pimpão!
Muito gente boa o suposto guarda da Scotland Yard.
Sentado na poltrona do Sherlock Holmes e trocando uma idéia com o Dr. Watson.
 
 
   Com a câmera fotográfica sem bateria, fui conhecer o Museu de História Natural. Bá, aquilo é muito massa (e de graça!). Fiquei mais de hora na ala dos dinossauros. O museu não só tem ossadas completas dos monstrengos, como também tem algumas réplicas em tamanho real e robotizadas. Eu já me impressionava com o tamanho dos bichos nos filmes, mas, ao vivo, é algo absurdamente chocante. Eu não alcanço sequer no joelho de um Tiranossauro Rex e alguns dentes de outros dinossauros são maiores que a minha mão. Somado a isso, tem toda uma ala interativa onde tu pode tocar em alguns ossos e peles de animais pré-históricos.
   As outras seções do museu também são interessantes, porém mais interessantes são os eventos. Eu assisti a uma palestra sobre lulas gigantes (e todas essas palestras são transmitidas de graça pela web). Cada dia, um dos 350 cientistas que lá trabalham interage diretamente com o público, levando amostras dos bichos, explicando quaisquer curiosidades e dando ênfase em conceitos importantes como sustentabilidade e interdependência. Dá pra passar o dia inteiro lá dentro do museu.
  Por fim, fui no Museu de Tecnologia – que é bem meia-boca – e na famosa loja de departamentos Harrod’s. A loja é tão grande que dá pra se perder lá dentro, só que é tudo caro.


GOD SAVE THE QUEEN (BECAUSE I WON’T)

   Meu último dia em Londres começou pelo Palácio de Buckingham, que fica dentro do Green Park. Infelizmente, a rainha não quis me receber. As visitas internas ao palácio começavam só no mês seguinte, então me limitei a fotografar do lado de fora. De qualquer forma, o lugar chama a atenção. Os guardinhas imóveis são tri engraçados e os portões com ouro impõem respeito. O parque tem uma tranqüilidade contagiante – que só é quebrada na hora da troca da Guarda Real. Neste momento, turistas e suas câmeras fotográficas atropelam quem estiver na frente para conseguir o melhor flash de uns carinhas sem emoção marchando de forma esquisita.


Palácio de Buckingham
Green Park
 
   Mais tarde, vaguei por Piccadilly Circus por um tempo, mas lá também existem poucas coisas compráveis. Depois fui pro Tate Modern Museum – que também é de graça e vale a pena a visita! A arte moderna é o tipo da coisa que me impressiona por permitir que qualquer coisa seja chamada arte. O melhor exemplo foi um vídeo que assisti. Ele durava uns quatro minutos e era assim: havia, numa sala, um sofá branco e uma mulher pelada sentada nele. Daí chegava um cara, também pelado, com um balão branco na mão e ficava pulando no sofá. A mulher não se mexia. Quatro minutos disso. Fim.
   Podre de cansado, no fim do dia, me arrastei com a mochila pra rodoviária e apenas dormi no ônibus de volta pra Paris. Mal me lembro de quando saí de Londres. Lembro de ser acordado por um agente federal francês quando cruzei o Canal da Mancha e depois só lembro de estar sendo acordado, dessa vez, pelo motorista do ônibus, já em Paris.  Agora o meu objetivo era aprender a pegar trem e, assim, chegar à romântica Bruges, na Bélgica.


É BOM TU SABER
 
   Metrôs são o máximo! O de Paris era mais ou menos, mas o de Londres é de alto padrão – só perde, na minha opinião, pro de Berlim e o de Barcelona. Metrôs são, de uma forma geral, eficientes e aconchegantes. Fazer um metrô nas cidades de médio e grande porte tinha que ser prioridade de qualquer governo. A qualidade de vida aumenta na mesma proporção dos pesados investimentos, uma vez que o cidadão economiza muito tempo andando de metrô, além de ser um meio de transporte coletivo “amigo do meio ambiente”, pois quase não polui. Pensa nisso!

3 comentários:

  1. Ger!
    to tri atarefada com a facul mas quando posso venho ler teus posts sobre o mochilão; queria muito ter ido contigo, mas meus pais não permetiram pq, afinal, eestive fevereiro inteiro por lá. Mas, em momento algum eu achei desinteressante ou desnecessário, mochilar é maravilhoso! só não recomendo ir sozinho, tu, por ser homem, é mais fácil, mas eu sofri alguns preconceitos mesmo estando acompanhada com amigos, imagina sozinha então!! Outra coisa, caraaaa Londres é maravilhosaaaa! morro de saudades de lá, os metros são alto padrão mesmo e nem se compara a os de Paris que são um lixo e tu ainda tem que abrir a porta com a mão! absurdo! ahaha saudadeees de tiii figura! Beijosss, Alexandra.

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  2. Ger!!!! Só pra contar, teu post de 2007 sobre os sisos me foi muito útil (os dois posts, na verdade né). Marquei pra retirar dois quinta-feira e estava gelada, ninguém me deu boas histórias... Mas agora já fiquei mais tranquila e vou seguir todas tuas recomendações! hahahaha...bjoooo

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  3. Achei o blog por acaso e estou me divertindo muito, me identifiquei bastante!!! Abraço!!!

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